segunda-feira, 3 de julho de 2017

Algumas Revoluções Socialistas no Seculo XX


REVOLUÇÕES SOCIALISTAS NO SECULO XX
REVOLUÇÃO RUSSA (1917)
     Em meados do século XIX, a Rússia mantinha relações feudais no campo. Os servos (mujiques) não podiam abandonar as terras, onde ficavam sob a tutela de nobres (boiardos). Um segmento social rural --- os kulaks, uma pequena burguesia agrária --- era formado por camponeses mias bastados, que empregavam trabalhadores assalariados.
     Apenas no fim do século XIX o país começou a se industrializar, com financiamentos estrangeiros. O estado imperial era comandado por um imperador (czar) despótico, que tomava todas as decisões administrativas. Até o início do século XX, 85% da população russa vivia no campo e apresentava estruturas sociais e econômicas tipicamente agrárias.
      Em 1890, fundou-se o primeiro partido político de tendência socialista, o Partido Operário Social Democrata Russo, liderado por Lenin, Trotski e outros. Em 1903, o partido estava dividido em dois. O grupo dos mencheviques defendia alianças com a burguesia para que a Rússia atingisse o desenvolvimento capitalista pretendido por Marx, para depois concretizar a revolução que conduziria o país ao socialismo. A facção liderada por Lenin, os bolcheviques, acreditava que a revolução deveria ser feita de imediato, pela aliança entre operário e camponeses liderados pelo partido.
       Em 1904, a participação e a derrota russa Guerra Russo- Japonesa acentuaram a crise do regime czarista e agravaram a miséria em que vivia a população. Uma série de greves estabeleceu-se por todo o país.
       Em 1905, mais de mil pessoas foram mortas em uma manifestação em São Petersburgo; o episódio ficou conhecido como domingo sangrento. A partir de então, protestos violentos intensificaram-se em todo o país. Os operários criaram conselhos denominados sovietes, para analisar em conjunto as decisões a serem adotadas contra o regime.
       Em agosto do mesmo ano, o czar determinou a criação da Duma (Parlamento). Dois meses depois, diante das pressões populares, publicou o Manifesto de outubro, substituindo o regime por uma monarquia constitucional.
       Em 1914, na entrada da Rússia na primeira Guerra Mundial gerou intensos protestos. Com soldados mal-equipados e sem um comando eficiente, a Rússia perdeu quatro milhões de homens. Internamente, a crise intensificava-se à medida que aumentava os gastos militares. As greves alastravam-se e a cidade de Petrogrado foi o palco inicial de uma revolução que percorreu o país, em fevereiro de 1917.
      A vitória da revolução ocorreu em três dias, com a tomada dos prédios públicos. O soviete de deputados operários reuniu-se, enquanto um comitê provisório da Duma preparava-se para assumir o governo. Era o fim do regime czarista russo.
      O comitê provisório da Duma foi transformado em um governo provisório, chefiado por Kerenski, que manteve a Rússia na guerra.
       Lenin retornou na suíça, onde ficou exilado desde a revolução de 1905, trazendo um programa de ação revolucionária ---- as Teses de Abril ---- que propunha o estabelecimento da paz, “todo o poder aos sovietes”, a nacionalização dos bancos, o controle operário sobre as fábricas e usinas e a ocupação das terras pelos camponeses.
       O governo provisório passou à perseguir os líderes bolcheviques e a reprimir movimentos populares. Lenin refugiou-se na Finlândia.
       Depois de tornar-se presidente do Soviete de Petrogrado, Trotski organizou uma milícia popular para enfrentar as forças do governo --- a Guarda Vermelha.
       Retornado da Finlândia, Lenin assumiu o comando da revolução ao lado de Trotski e de outros líderes do Partido Bolchevique, como Stalin, Bukarin e Kirov.
       Na noite de 24 de outubro (6 de novembro no calendário ocidental), os bolcheviques ocuparam os principais órgãos do governo, enquanto o povo tomava as ruas de Petrogrado e o couraçado Aurora bombardeava o Palácio de Inverno. Sem o respaldo das tropas que já estavam aliadas aos revolucionários, Kerenski fugiu, e Lenin chegou ao poder. Estava consagrada a Revolução Socialista de Outubro de 1917.

GOVERNO LENIN (1917-1924)
        
Em março de 1918, a Rússia retirou-se da Primeira Guerra Mundial pelo acordo de paz de Brest-Litovsky.
         As primeiras decisões socialistas do governo Lenin foram o confisco sumário e sem indenização das grandes propriedades; a expropriação completa das indústrias; a entrega da direção das empresas a nomes indicados pelos sindicatos; o confisco das colheitas, exceto para consumo próprio; a regulamentação da produção e do consumo; o racionamento generalizado (foram estabelecidas cotas de consumo de leite, pão e lenha para cada família); a mobilização da polícia política para punir os infratores; a nacionalização de toda empresa estrangeira que possuísse pelo menos cinco operários.
         Entre 1918 e 1921, a Rússia viveu uma guerra civil provocada pela oposição ao bolchevismo, que contava com o apoio de países capitalistas; estes formaram o Exército Branco, que lutou conta o Exército Vermelho, comandado por Trotski. Após a vitória do Exército Vermelho, consolidava-se o regime socialista russo.
          Em fevereiro de 1921, Lenin criou a Comissão Estatal para Planificação Econômica (Gosplan), responsável por gerenciar a economia; no mês seguinte, organizou uma série de reformas conhecida por Nova Política Econômica (NEP), com as quais pretendia adotar medidas liberalizantes --- de caráter capitalista --- na economia socializada da Rússia, para elevar a produção e melhorar a economia país. Os resultados da NEP são considerados positivos, pois reorganizaram as atividades agrícola e industrial.
         Em 1922, os Estados não russos foram integrados a República Socialista Soviética Russa. Dois anos depois, uma nova constituição instituiu a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. (URSS)
          A morte de Lenin, em janeiro de 1924, provocou uma disputa interna pelo poder, que significou um confronto entre propostas divergentes para a condução do processo revolucionário. Trotski defendia a revolução permanente e a internacionalização da revolução, para garantir o sucesso do socialismo.
         Joseph Stalin, outro líder da disputa, propunha que o socialismo deveria ser construído em um só pais, assim a URSS se transformaria em uma potência capaz de se proteger sozinha.

GOVERNO STALIN (1929-1953)
             
Stalin conquistou grande influência no Partido Comunista da União Soviética e, agindo de forma arbitrária e autoritária, impôs sua tese às bases partidárias, garantindo a vitória. Neutralizando os concorrentes, assumiu total controle sobre o Estado e tornou-se ditador da União Soviética. 
Durante seu governo, Stalin estruturou um gigantesco sistema de repressão contra toda a oposição, até mesmo contra antigos companheiros de Lenin e dele próprio, como Trotski e Kamenev.
            Estima-se que entre 500 mil e um milhão de pessoas tenham sido mortas a mando de Stalin. Consolidava a ditadura, o líder soviético iniciou uma hábil campanha propaganda e culto à personalidade.
        Stalin substituiu a NEP pelos planos quinquenais, com objetivos ou metas econômicos a serem atingidas em 1939, dois os planos quinquenais já haviam sido aplicados, ambos com esforços de expansão  da indústria pesada. A coletivização forçada da agricultura resultou na extinção das pequenas e médias propriedades que haviam sido autorizadas pela NEP. Foram instaladas as kolkhozes, cooperativas produção, menos a terra, pertencia aos trabalhadores soviéticos morreu nas obras ou em consequência do processo de coletivização forçada.
        A Revolução Vermelha russa (outubro de 1917) e seus desdobramentos abalaram o mundo capitalista, pois, pela primeira vez na história, uma revolução desse tipo conseguia instituir um governo não capitalista de longa duração --- ao contrário da Comuna de Paris, cuja existência foi efêmera. 
          A partir daí, os países capitalistas passaram a se preocupar cada vez mais com o avanço do socialismo.

A REVOLUÇÃO CHINESA (1949)
       
O século XX na China iniciou-se com a tentativa de derrubada de valores de dominação e exploração do povo chinês, submetido, desde o século XIX, a várias potências imperialistas, especialmente a partir da Guerra do ópio (1841). Essa exploração encontrou apoio nos mandarins, funcionários do Estado imperial, e senhores de terra. Baseando-se na filosofia de Confúcio, que pregava o respeito à autoridade e à hierarquia e o culto ao passado, mantinham as tradicionais estruturas dos privilégios, o que favorecia dominação.
A revolta dos Boxers (1898-1901), embora fracassada, foi uma dessas tentativas, despertando o descontentamento geral, a chama revolucionária e a conscientização da população de que a dinastia Manchu, que então governava a China e cooperava com a dominação internacional, era a responsável pela miséria do país.
Em 1911, em meio à ebulição sociopolítica, foi proclamada a República chinesa, que, entretanto, quase nada pôde fazer diante das potências imperialistas que ocupavam o país. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o domínio das potências imperialistas foi encabeçado pelo Japão, enquanto o governo republicano liderado por Sun Yat-Sen, do partido Nacionalista (Kuomintang), sofria sucessivas pressões regionais pela autonomia, provocadas pelos chefes militares locais, além do contínuo domínio internacional.
Em 04 de maio de 1919, três mil estudantes universitários marcharam pelas ruas de Pequim, manifestando-se contra a aceitação, por parte do governo, das humilhantes exigências feitas pelo Japão sobre a china e concedidas no tratado de Versalhes. Os estudantes foram logo apoiados por outros setores que promoveram greves e manifestações em todo o país. Uma delas ocorreu em 1920, em Xangai, influenciada pela revolução socialista russa, enquanto era fundado o partido Comunista Chinês (PCC), que contava com a participação de Mao Tse-tung.
No início da década de 20, o governo do Kuomintang conviveu com o Partido Comunista Chinês, que crescia vertiginosamente, e também, sem grandes atritos com a União Soviética. O objetivo imediato do governo era a unificação nacional e as lutas contra a autonomia dos senhores locais e as potências imperialistas. Para isso, contava com o apoio dos comunistas.
A partir de 1925, porém, Chiang Kai-shek assumiu o comando das tropas do Kuromintang e iniciou uma política agressiva, contra o Partido Comunista, rompendo a frente única. Foi apoiado pelos chefes militares locais, temerosos da efervescência popular e do PCC, pelas potências imperialistas, que passaram a ver o Kuomintang como vital para o futuro da China. Este esmagou pela força o movimento popular urbano.
      Diante das derrotas sofridas nas cidades de Xangai e Pequim, o Partido Comunista, sob a liderança de Mao Tse-tung e Teh, retirou-se para o anterior do país a fim de organizar suas bases de apoio. Em 1931, foi proclamada a República Soviética da China, em Kiangsi, no leste do país.
       A unidade do país era mantida por Chiang Kai-shek à custa de uma série de acordos com os chefes militares locais, que, possuidores de independência parcial, comprometiam o próprio governo nacional. A partir de 1930, a crise e as indefinições cresceram, originando uma guerra civil. Aproveitando-se da fragilidade chinesa do Japão invadiu a Manchúria, em 1931, e estabeleceu um Estado satélite – o Manchukuo – no Norte do país. O Kuomintang passou a sofrer dupla pressão: do imperialismo japonês e da ameaça comunista no interior do país.
       Em 1934, os nacionalistas organizaram uma grande campanha militar para esmagar os comunistas. Fugindo das tropas do Kuomintang os cem mil homens do Exército Popular de Libertação, liderados por Mao, percorreram dez mil quilômetros a pé – a Longa Marcha (1934-1935) -, restando ao fim de um ano apenas nove mil. Transformado no líder dos vermelhos, Mao Tse-tung foi escolhido para secretário-geral do PCC, sendo assessorado por Lin Piao e Chou Em-Iai.
       Diante do insistente avanço japonês, Mao Tse-tung propôs a organização de uma nova frente única – Kuomintang e PCC-, o que levou a um acordo, concluído em 1937. Até o final da Segunda Guerra Mundial, essa frente deu ao PCC o controle de parte do exército chinês, além de uma crescente popularidade, ao denunciar a corrupção das tropas de Chiang Kai-shek.
       Com a capitulação do Japão na Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945, Chiang Kai-shek decreta, em 04 de julho de 1946, uma mobilização nacional, a fim de eliminar definitivamente o “perigo vermelho”. Contando com o apoio norte-americano, que lhes fornecia militares e financeiros,Chiang Kai-shek passou a ser visto pelos chineses como um “cúmplice do estrangeiro”.
      Enquanto isso, a União Soviética envolvida com seus próprios problemas de pós-guerra, adotava com a China uma política ambígua e hesitante, deixando sem apoio os guerrilheiros do Exército Popular de Libertação, que, mesmo assim, continuaram avançando e atacando o Kuomintang.
      O exército do PCC foi ganhando terreno, até que,em janeiro de 1949, entrou vitorioso em Pequim, e, em 10 de outubro, foi proclamada a República Popular da China. Chiang Kai-shek e seus seguidores refugiaram-se na ilha de Formosa (Taiwan), onde instalaram o governo da China Nacionalista, que recebeu forte apoio norte-americano durante a guerra da Coréia e toda a Guerra fria. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos isolaram a China, negando-lhe reconhecimento diplomático e intercâmbio econômico.

REVOLUÇÃO CUBANA (1960)

      Depois da independência (1898) da Espanha, Cuba foi colocada sob a influência dos Estados Unidos, através da Emenda Platt, em 1901. Em 1934, Fulgêncio Batista assumiu o poder e passou a governar segundo interesses do imperialismo estadunidense.
       Em 1952 por meio de um golpe de Estado, Fulgêncio Batista instalou no país uma ditadura.
       Em 1953, UM GRUPO DE REBELDES CHEFIADOS POR Fidel Castro Ruiz tentou tomar o poder por meio de um golpe contra Batista. A tentativa resoltou em fracasso, e Fidel Castro foi preso.
       Libertado em 1955, Fidel Castro exilou-se no México, onde se uniu a outros exilados cubanos e organizou o retorno à ilha. No grupo de rebeldes, constituído por menos de 90 homens, destacava-se o médico argentino Ernesto Guevara de la Serra (Conhecido por Che).
        No fim de novembro de 1956, o grupo partiu do México em destino a Cuba, onde iniciou a revolução para a tomada poder.
        Depois de dois anos de conflito, Fulgêncio Batista fugiu para a República Dominicana; no dia seguinte, os revolucionários entraram em Havana.
       Fidel Castro assumiu o controle do Estado e do exército revolucionário, nacionalizou empresas estrangeiras e promoveu a reforma agrária; depois de expropriar terras da oligarquia cubana e de empresas estadunidenses.
       Em janeiro de 1961, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba; em abril, exilados cubanos treinados pela CIA, tentaram invadir Cuba e derrubar Fidel. A fracassada tentativa de invasão na Baía dos Porcos acelerou o rompimento definitivo do governo cubano com o mundo capitalista. Em dezembro de 1961, Fidel anunciou a adesão de Cuba ao socialismo, aproximando-se da União Soviética. Em 1962, a tentativa de instalação de mísseis soviéticos em Cuba gerou um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, na chamada Crise dos Mísseis. A questão foi resolvida com o compromisso soviético de não instalar armas em solo cubano, enquanto do lado dos Estados Unidos o governo assumiu o compromisso de não mais tentar intervir militarmente em Cuba.


Os Primórdios do Socialismo

Os primórdios do socialismo
Prof.: Gonçalo Francisco de Pontes Filho
            Vinculados ao movimento cartista surgiram os socialistas, propondo a criação de uma sociedade baseada na cooperação, e não na competição, um sistema socioeconômico em que a produção e a distribuição de bens seriam planejadas para o bem geral da sociedade.
            Alguns socialistas, classificados como utópicos, esboçaram modelos para um mundo melhor. Eles foram assim chamados por não terem criado uma doutrina organizada, visando a destruição da sociedade capitalista.
O Socialismo Utópico
            Saint-Simon (1760-1825),socialista francês, renunciou a seu título de nobreza durante a Revolução Francesa, mas, segundo ele, a filosofia iluminista, embora tivesse ajudado a destruir a ordem antiga, não proporcionara uma orientação para a reconstrução da sociedade. Ele tomou para si a missão de construir a nova sociedade, oferecendo uma compreensão clara da nova era a ser modelada pela ciência e pela indústria.
            A nova sociedade, diferente da propiciada pela igreja na Idade Média, deveria nascer do conhecimento científico. Cientistas, industriais, banqueiros, artistas e escritores substituiriam clérigos e aristocratas na elite governante. O clero tradicional, tendo colocado o dogma acima da lei moral, perdera o direito de liderar a Europa naquela nova era, e um novo clero, inteiramente a par do conhecimento científico instruiria os fiéis a amarem uns aos outros. Haveria um novo cristianismo, despojado de mitos e dogmas, ajustando à nova era da ciência, unindo espiritual e moralmente todos os povos da Europa.
            Charles Fourier (1772-1837), outro socialista francês, acreditava que a infelicidade humana devia-se ao conflito entre as necessidades naturais do homem e a disposição da sociedade de então. Enquanto Saint-Simon e seus adeptos pensavam em reorganizar a sociedade em grande escala - grandes indústrias, gigantescas estradas de ferro e sistemas de canais -, Fourier idealizava pequenas comunidades, nas quais homens e mulheres pudessem desfrutar de prazeres simples e satisfazer suas verdadeiras necessidades humanas. Nessas comunidades, chamadas falanstérios, todos trabalhariam em tarefas que lhes interessassem e produziriam para si e para os outros. Dinheiros e bens não seriam distribuídos igualmente, aqueles com dotes especiais e responsabilidades seriam recompensados de acordo, isso para que as pessoas tivessem um desejo natura de ser reconhecidas por suas realizações.
            Fourier apoiava a igualdade entre os sexos. As mulheres, tanto quanto os homens, deveriam escolher seus empregos. O casamento seria pura brutalidade, por negas as necessidades sexuais da maioria de homens e mulheres, cuja natureza, se rebelava contra a monogamia estrita. As pessoas casadas, tendo de devotar todas as suas energias e todo o seu tempo à casa e/ou à familia, não podiam desfrutar dos prazeres da vida nem se ocupar com outros seres humanos. Para Fourier, as pessoas deveriam escapar da monotonia pela mudança, não só de ocupação como também de amores. A familia iria desaparecer por sua própria conta quando os homens e mulheres descobrissem novos modos de satisfazer suas necessidades sexuais e a comunidade assumisse a responsabilidade pela educação das crianças. Em 1840, cerca de 29 comunidades fourieristas estavam estabelecidas nos Estados Unidos, mas a sua duração foi curta.
            Robert Owen (1771-1858) tornou-se, em 1779, coproprietário e gerente da fábrica de tecido de algodão New Lanark, na Escócia, penalizado com os maus-tratos frequentemente infligidos aos trabalhadores aumentou os salários, melhorou as condições de trabalho, providenciou-lhes moradia, alimentação e vestuário a preços razoáveis, e recusou-se a contratar crianças menores de 10 anos. Além disso, forneceu oportunidades educacionais para as crianças e iniciou um programa de ensino para os adultos.
            Owen quis assim demonstrar que um melhor tratamento dispensado aos trabalhadores não era incoerente com os lucros. Mais felizes e mais saudáveis, eles produziriam mais. Ele acreditava que a ordem social e econômica de então, fundada na competição, deveria ser substituída por um sistema baseado na vida harmoniosa em grupo. Estabeleceu uma comunidade modelo em New Harmony, Indiana, nos Estados Unidos, mas essa experiência terminou em fracasso.
PENSANDO A REVOLUÇÃO INTERNACIONAL
            No manifesto Comunista de 1848, além de identificar a situação de contestação política na Europa, Marx também procurava decifrar a lógica das lutas sociais da classe operária e de diversas outras classes sociais ao longo da História.
            As lutas políticas do século XIX foram objeto de suas análises em diversos outros escritos. No lugar das vagas e abstratas definições de povo e população, Marx e Engels preferiram recorrer à categoria classe social. No lugar de apelo nacionalista, formularam uma palavra de ordem internacionalista: “Operários de todo o mundo, uni-vos!”
O Socialismo Científico
            No manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels defendiam a construção de uma sociedade igualitária, na qual as riquezas seriam divididas entre todos os seus integrantes e sob o controle dos trabalhadores.
            Ao contrário dos grupos que ainda acreditavam que a tomada do poder poderia se realizar pela participação dos trabalhadores nas eleições e por meio de medidas graduais, Marx e Engels apoiavam o assalto do poder através da organização da classe trabalhadora. Para eles, as reivindicações econômicas, além de necessárias para a sobrevivência do trabalhador, tinham como objetivo despertar a consciência de classe do proletariado aos interesses eram contrários aos interesses da burguesia e jamais seriam satisfeitos numa sociedade capitalista.
            Seus trabalhos serviam como orientação geral para diversas lideranças do movimento operário, que passaram a se autodeterminar comunistas. Ao longo do século XIX, ao mesmo tempo em que as lutas operárias eram mais constantes, as análises teóricas sobre o capitalismo tornavam-se mais profundas. Os escritos de Marx acabaram por formar uma importante corrente de pensamento: o marxismo.
            Para os marxistas, a história da humanidade era movimentada pela luta de classes. Na antiguidade, os escravos lutavam contra seus senhores. Na Idade Média, os servos contra os senhores feudais. Na época contemporânea, os trabalhadores contra a burguesia.
            No capitalismo, de um lado, estaria a burguesia, que concentrava em suas mãos os capitais e a tecnologia; de outro, o proletariado, responsável pela produção e que tomaria o poder.
            Os marxistas defendiam que após a derrota da burguesia pela ação política do proletariado, a sociedade seria radicalmente modificada, No lugar da propriedade privada, a propriedade coletiva, nas mãos de um Estado dirigido pelos representantes dos trabalhadores. No lugar da sociedade capitalista, uma sociedade socialista.
            O socialismo era encarado como um momento intermediário até se chegar ao comunismo, quando não haveria mais necessidade do Estado. Além disso, no mundo comunista, homens e mulheres viveriam livres, numa sociedade sem classes, em completa igualdade, e poderiam realizar plenamente suas potencialidades. Para Marx, o comunismo marcaria o início da História da humanidade. Até então, os seres humanos teriam vivido na sua pré-história.
            A emancipação proletária marcaria o início de uma nova aurora para os seres humanos. Seria o fim daquele imenso vale de lágrimas em que o mundo se transformara aos sofrimentos e violências.
O Anarquismo
            Como os marxistas, os anarquistas protestavam conta a exploração dos trabalhadores e exigiam a extinção da propriedade privada. Mas, ao contrário dos marxistas, que previam o fim do Estado após a derrubada do capitalismo, eles exigiam sua destruição imediata. “Eu não quero nem dar nem receber ordens.” Essa frase do filósofo, iluminista Diderot, inspirou grande parte dos líderes do anarquismo. Os anarquistas propunham uma sociedade igualitária, em que a propriedade fosse coletiva, não houvesse patrões nem operários e todos trabalhassem e se divertissem com liberdade. Para eles, a sociedade capitalista deveria ser transformada por uma revolução que eliminasse as diferenças sociais e a propriedade privada.
            Pierre Joseph Proudhon (1809-1865), francês e inspirador do movimento anarquista, defendia a criação de uma nova sociedade, que ampliasse a liberdade individual e livrasse o trabalho da exploração do capitalismo industrial. Nessa nova ordem social, constituída pela organização dos operários, as pessoas tratariam com justiça seu próximo e desenvolveriam seu potencial. Uma sociedade assim não requeria um governo que somente alimentasse privilégios e suprimisse a liberdade. Reverenciado pelos anarquistas de todo o mundo, tornou célebre a formulação que viria a ser um dos grandes lemas do movimento operário: “A propriedade é um roubo”.
           Outro grande representante do anarquismo foi o russo Mikhail Bakunin (1814-1876). Enquanto Marx sustentava que a revolução seria feita pelos operários nos países industriais, Bakunin desejava que os oprimidos de todas as classes, incluindo os camponeses, se revoltassem.

          Bakunin temia que os marxistas, após terem derrotado o capitalismo e tomado o poder, se tornassem os novos exploradores. Uma vez no poder, eles se converteriam em uma minoria privilegiada de ex-trabalhadores, que, com o poder nas mãos, passariam a representar a si mesmos e a defender seus interesses. Para Bakunin, o Estado deveria ser destruído pelos trabalhadores imediatamente após a revolução.

Crise de 1929