Os
primórdios do socialismo
Prof.:
Gonçalo Francisco de Pontes Filho
Vinculados ao movimento cartista surgiram os socialistas, propondo a criação de uma
sociedade baseada na cooperação, e não na competição, um sistema socioeconômico
em que a produção e a distribuição de bens seriam planejadas para o bem geral
da sociedade.
Alguns socialistas, classificados como utópicos, esboçaram modelos para um
mundo melhor. Eles foram assim chamados por não terem criado uma doutrina
organizada, visando a destruição da sociedade capitalista.
O
Socialismo Utópico
Saint-Simon (1760-1825),socialista
francês, renunciou a seu título de nobreza durante a Revolução Francesa, mas,
segundo ele, a filosofia iluminista, embora tivesse ajudado a destruir a ordem
antiga, não proporcionara uma orientação para a reconstrução da sociedade. Ele
tomou para si a missão de construir a nova sociedade, oferecendo uma
compreensão clara da nova era a ser modelada pela ciência e pela indústria.
A nova sociedade, diferente da propiciada pela igreja na
Idade Média, deveria nascer do conhecimento científico. Cientistas,
industriais, banqueiros, artistas e escritores substituiriam clérigos e
aristocratas na elite governante. O clero tradicional, tendo colocado o dogma
acima da lei moral, perdera o direito de liderar a Europa naquela nova era, e
um novo clero, inteiramente a par do conhecimento científico instruiria os
fiéis a amarem uns aos outros. Haveria um novo cristianismo, despojado de mitos
e dogmas, ajustando à nova era da ciência, unindo espiritual e moralmente todos
os povos da Europa.
Charles Fourier
(1772-1837), outro socialista francês, acreditava que a infelicidade humana
devia-se ao conflito entre as necessidades naturais do homem e a disposição da
sociedade de então. Enquanto Saint-Simon e seus adeptos pensavam em reorganizar
a sociedade em grande escala - grandes indústrias, gigantescas estradas de
ferro e sistemas de canais -, Fourier idealizava pequenas comunidades, nas
quais homens e mulheres pudessem desfrutar de prazeres simples e satisfazer
suas verdadeiras necessidades humanas. Nessas comunidades, chamadas falanstérios, todos trabalhariam em
tarefas que lhes interessassem e produziriam para si e para os outros.
Dinheiros e bens não seriam distribuídos igualmente, aqueles com dotes
especiais e responsabilidades seriam recompensados de acordo, isso para que as
pessoas tivessem um desejo natura de ser reconhecidas por suas realizações.
Fourier apoiava a igualdade entre os sexos. As mulheres,
tanto quanto os homens, deveriam escolher seus empregos. O casamento seria pura
brutalidade, por negas as necessidades sexuais da maioria de homens e mulheres,
cuja natureza, se rebelava contra a monogamia estrita. As pessoas casadas,
tendo de devotar todas as suas energias e todo o seu tempo à casa e/ou à
familia, não podiam desfrutar dos prazeres da vida nem se ocupar com outros
seres humanos. Para Fourier, as pessoas deveriam escapar da monotonia pela
mudança, não só de ocupação como também de amores. A familia iria desaparecer
por sua própria conta quando os homens e mulheres descobrissem novos modos de
satisfazer suas necessidades sexuais e a comunidade assumisse a
responsabilidade pela educação das crianças. Em 1840, cerca de 29 comunidades
fourieristas estavam estabelecidas nos Estados Unidos, mas a sua duração foi
curta.
Robert Owen
(1771-1858) tornou-se, em 1779, coproprietário e gerente da fábrica de tecido
de algodão New Lanark, na Escócia, penalizado com os maus-tratos frequentemente
infligidos aos trabalhadores aumentou os salários, melhorou as condições de
trabalho, providenciou-lhes moradia, alimentação e vestuário a preços
razoáveis, e recusou-se a contratar crianças menores de 10 anos. Além disso,
forneceu oportunidades educacionais para as crianças e iniciou um programa de
ensino para os adultos.
Owen quis assim demonstrar que um melhor tratamento
dispensado aos trabalhadores não era incoerente com os lucros. Mais felizes e
mais saudáveis, eles produziriam mais. Ele acreditava que a ordem social e
econômica de então, fundada na competição, deveria ser substituída por um
sistema baseado na vida harmoniosa em grupo. Estabeleceu uma comunidade modelo
em New Harmony, Indiana, nos Estados Unidos, mas essa experiência terminou em
fracasso.
PENSANDO
A REVOLUÇÃO INTERNACIONAL
No manifesto Comunista de 1848, além de identificar a
situação de contestação política na Europa, Marx também procurava decifrar a
lógica das lutas sociais da classe operária e de diversas outras classes
sociais ao longo da História.
As lutas políticas do século XIX foram objeto de suas
análises em diversos outros escritos. No lugar das vagas e abstratas definições
de povo e população, Marx e Engels preferiram recorrer à categoria classe social. No lugar de apelo
nacionalista, formularam uma palavra de ordem internacionalista: “Operários de todo o mundo, uni-vos!”
O
Socialismo Científico
No manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels defendiam a
construção de uma sociedade igualitária, na qual as riquezas seriam divididas
entre todos os seus integrantes e sob o controle dos trabalhadores.
Ao contrário dos grupos que ainda acreditavam que a
tomada do poder poderia se realizar pela participação dos trabalhadores nas
eleições e por meio de medidas graduais, Marx e Engels apoiavam o assalto do
poder através da organização da classe trabalhadora. Para eles, as
reivindicações econômicas, além de necessárias para a sobrevivência do
trabalhador, tinham como objetivo despertar a consciência de classe do
proletariado aos interesses eram contrários aos interesses da burguesia e
jamais seriam satisfeitos numa sociedade capitalista.
Seus trabalhos serviam como orientação geral para
diversas lideranças do movimento operário, que passaram a se autodeterminar comunistas. Ao longo do século XIX, ao
mesmo tempo em que as lutas operárias eram mais constantes, as análises
teóricas sobre o capitalismo tornavam-se mais profundas. Os escritos de Marx
acabaram por formar uma importante corrente de pensamento: o marxismo.
Para os marxistas, a história da humanidade era
movimentada pela luta de classes. Na antiguidade, os escravos lutavam contra
seus senhores. Na Idade Média, os servos contra os senhores feudais. Na época
contemporânea, os trabalhadores contra a burguesia.
No capitalismo, de um lado, estaria a burguesia, que
concentrava em suas mãos os capitais e a tecnologia; de outro, o proletariado,
responsável pela produção e que tomaria o poder.
Os marxistas defendiam que após a derrota da burguesia
pela ação política do proletariado, a sociedade seria radicalmente modificada,
No lugar da propriedade privada, a propriedade coletiva, nas mãos de um Estado
dirigido pelos representantes dos trabalhadores. No lugar da sociedade
capitalista, uma sociedade socialista.
O socialismo era
encarado como um momento intermediário até se chegar ao comunismo, quando não haveria mais necessidade do Estado. Além
disso, no mundo comunista, homens e mulheres viveriam livres, numa sociedade
sem classes, em completa igualdade, e poderiam realizar plenamente suas
potencialidades. Para Marx, o comunismo marcaria o início da História da
humanidade. Até então, os seres humanos teriam vivido na sua pré-história.
A emancipação proletária marcaria o início de uma nova
aurora para os seres humanos. Seria o fim daquele imenso vale de lágrimas em
que o mundo se transformara aos sofrimentos e violências.
O Anarquismo
Como os marxistas, os anarquistas
protestavam conta a exploração dos trabalhadores e exigiam a extinção da
propriedade privada. Mas, ao contrário dos marxistas, que previam o fim do
Estado após a derrubada do capitalismo, eles exigiam sua destruição imediata.
“Eu não quero nem dar nem receber ordens.” Essa frase do filósofo, iluminista
Diderot, inspirou grande parte dos líderes do anarquismo. Os anarquistas
propunham uma sociedade igualitária, em que a propriedade fosse coletiva, não
houvesse patrões nem operários e todos trabalhassem e se divertissem com liberdade.
Para eles, a sociedade capitalista deveria ser transformada por uma revolução
que eliminasse as diferenças sociais e a propriedade privada.
Pierre Joseph Proudhon
(1809-1865), francês e inspirador do movimento anarquista, defendia a criação
de uma nova sociedade, que ampliasse a liberdade individual e livrasse o
trabalho da exploração do capitalismo industrial. Nessa nova ordem social,
constituída pela organização dos operários, as pessoas tratariam com justiça
seu próximo e desenvolveriam seu potencial. Uma sociedade assim não requeria um
governo que somente alimentasse privilégios e suprimisse a liberdade.
Reverenciado pelos anarquistas de todo o mundo, tornou célebre a formulação que
viria a ser um dos grandes lemas do movimento operário: “A propriedade é um
roubo”.
Outro grande representante do
anarquismo foi o russo Mikhail Bakunin
(1814-1876). Enquanto Marx sustentava que a revolução seria feita pelos
operários nos países industriais, Bakunin desejava que os oprimidos de todas as
classes, incluindo os camponeses, se revoltassem.
Bakunin temia que os marxistas, após
terem derrotado o capitalismo e tomado o poder, se tornassem os novos
exploradores. Uma vez no poder, eles se converteriam em uma minoria privilegiada
de ex-trabalhadores, que, com o poder nas mãos, passariam a representar a si
mesmos e a defender seus interesses. Para Bakunin, o Estado deveria ser
destruído pelos trabalhadores imediatamente após a revolução.
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