segunda-feira, 3 de julho de 2017

Os Primórdios do Socialismo

Os primórdios do socialismo
Prof.: Gonçalo Francisco de Pontes Filho
            Vinculados ao movimento cartista surgiram os socialistas, propondo a criação de uma sociedade baseada na cooperação, e não na competição, um sistema socioeconômico em que a produção e a distribuição de bens seriam planejadas para o bem geral da sociedade.
            Alguns socialistas, classificados como utópicos, esboçaram modelos para um mundo melhor. Eles foram assim chamados por não terem criado uma doutrina organizada, visando a destruição da sociedade capitalista.
O Socialismo Utópico
            Saint-Simon (1760-1825),socialista francês, renunciou a seu título de nobreza durante a Revolução Francesa, mas, segundo ele, a filosofia iluminista, embora tivesse ajudado a destruir a ordem antiga, não proporcionara uma orientação para a reconstrução da sociedade. Ele tomou para si a missão de construir a nova sociedade, oferecendo uma compreensão clara da nova era a ser modelada pela ciência e pela indústria.
            A nova sociedade, diferente da propiciada pela igreja na Idade Média, deveria nascer do conhecimento científico. Cientistas, industriais, banqueiros, artistas e escritores substituiriam clérigos e aristocratas na elite governante. O clero tradicional, tendo colocado o dogma acima da lei moral, perdera o direito de liderar a Europa naquela nova era, e um novo clero, inteiramente a par do conhecimento científico instruiria os fiéis a amarem uns aos outros. Haveria um novo cristianismo, despojado de mitos e dogmas, ajustando à nova era da ciência, unindo espiritual e moralmente todos os povos da Europa.
            Charles Fourier (1772-1837), outro socialista francês, acreditava que a infelicidade humana devia-se ao conflito entre as necessidades naturais do homem e a disposição da sociedade de então. Enquanto Saint-Simon e seus adeptos pensavam em reorganizar a sociedade em grande escala - grandes indústrias, gigantescas estradas de ferro e sistemas de canais -, Fourier idealizava pequenas comunidades, nas quais homens e mulheres pudessem desfrutar de prazeres simples e satisfazer suas verdadeiras necessidades humanas. Nessas comunidades, chamadas falanstérios, todos trabalhariam em tarefas que lhes interessassem e produziriam para si e para os outros. Dinheiros e bens não seriam distribuídos igualmente, aqueles com dotes especiais e responsabilidades seriam recompensados de acordo, isso para que as pessoas tivessem um desejo natura de ser reconhecidas por suas realizações.
            Fourier apoiava a igualdade entre os sexos. As mulheres, tanto quanto os homens, deveriam escolher seus empregos. O casamento seria pura brutalidade, por negas as necessidades sexuais da maioria de homens e mulheres, cuja natureza, se rebelava contra a monogamia estrita. As pessoas casadas, tendo de devotar todas as suas energias e todo o seu tempo à casa e/ou à familia, não podiam desfrutar dos prazeres da vida nem se ocupar com outros seres humanos. Para Fourier, as pessoas deveriam escapar da monotonia pela mudança, não só de ocupação como também de amores. A familia iria desaparecer por sua própria conta quando os homens e mulheres descobrissem novos modos de satisfazer suas necessidades sexuais e a comunidade assumisse a responsabilidade pela educação das crianças. Em 1840, cerca de 29 comunidades fourieristas estavam estabelecidas nos Estados Unidos, mas a sua duração foi curta.
            Robert Owen (1771-1858) tornou-se, em 1779, coproprietário e gerente da fábrica de tecido de algodão New Lanark, na Escócia, penalizado com os maus-tratos frequentemente infligidos aos trabalhadores aumentou os salários, melhorou as condições de trabalho, providenciou-lhes moradia, alimentação e vestuário a preços razoáveis, e recusou-se a contratar crianças menores de 10 anos. Além disso, forneceu oportunidades educacionais para as crianças e iniciou um programa de ensino para os adultos.
            Owen quis assim demonstrar que um melhor tratamento dispensado aos trabalhadores não era incoerente com os lucros. Mais felizes e mais saudáveis, eles produziriam mais. Ele acreditava que a ordem social e econômica de então, fundada na competição, deveria ser substituída por um sistema baseado na vida harmoniosa em grupo. Estabeleceu uma comunidade modelo em New Harmony, Indiana, nos Estados Unidos, mas essa experiência terminou em fracasso.
PENSANDO A REVOLUÇÃO INTERNACIONAL
            No manifesto Comunista de 1848, além de identificar a situação de contestação política na Europa, Marx também procurava decifrar a lógica das lutas sociais da classe operária e de diversas outras classes sociais ao longo da História.
            As lutas políticas do século XIX foram objeto de suas análises em diversos outros escritos. No lugar das vagas e abstratas definições de povo e população, Marx e Engels preferiram recorrer à categoria classe social. No lugar de apelo nacionalista, formularam uma palavra de ordem internacionalista: “Operários de todo o mundo, uni-vos!”
O Socialismo Científico
            No manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels defendiam a construção de uma sociedade igualitária, na qual as riquezas seriam divididas entre todos os seus integrantes e sob o controle dos trabalhadores.
            Ao contrário dos grupos que ainda acreditavam que a tomada do poder poderia se realizar pela participação dos trabalhadores nas eleições e por meio de medidas graduais, Marx e Engels apoiavam o assalto do poder através da organização da classe trabalhadora. Para eles, as reivindicações econômicas, além de necessárias para a sobrevivência do trabalhador, tinham como objetivo despertar a consciência de classe do proletariado aos interesses eram contrários aos interesses da burguesia e jamais seriam satisfeitos numa sociedade capitalista.
            Seus trabalhos serviam como orientação geral para diversas lideranças do movimento operário, que passaram a se autodeterminar comunistas. Ao longo do século XIX, ao mesmo tempo em que as lutas operárias eram mais constantes, as análises teóricas sobre o capitalismo tornavam-se mais profundas. Os escritos de Marx acabaram por formar uma importante corrente de pensamento: o marxismo.
            Para os marxistas, a história da humanidade era movimentada pela luta de classes. Na antiguidade, os escravos lutavam contra seus senhores. Na Idade Média, os servos contra os senhores feudais. Na época contemporânea, os trabalhadores contra a burguesia.
            No capitalismo, de um lado, estaria a burguesia, que concentrava em suas mãos os capitais e a tecnologia; de outro, o proletariado, responsável pela produção e que tomaria o poder.
            Os marxistas defendiam que após a derrota da burguesia pela ação política do proletariado, a sociedade seria radicalmente modificada, No lugar da propriedade privada, a propriedade coletiva, nas mãos de um Estado dirigido pelos representantes dos trabalhadores. No lugar da sociedade capitalista, uma sociedade socialista.
            O socialismo era encarado como um momento intermediário até se chegar ao comunismo, quando não haveria mais necessidade do Estado. Além disso, no mundo comunista, homens e mulheres viveriam livres, numa sociedade sem classes, em completa igualdade, e poderiam realizar plenamente suas potencialidades. Para Marx, o comunismo marcaria o início da História da humanidade. Até então, os seres humanos teriam vivido na sua pré-história.
            A emancipação proletária marcaria o início de uma nova aurora para os seres humanos. Seria o fim daquele imenso vale de lágrimas em que o mundo se transformara aos sofrimentos e violências.
O Anarquismo
            Como os marxistas, os anarquistas protestavam conta a exploração dos trabalhadores e exigiam a extinção da propriedade privada. Mas, ao contrário dos marxistas, que previam o fim do Estado após a derrubada do capitalismo, eles exigiam sua destruição imediata. “Eu não quero nem dar nem receber ordens.” Essa frase do filósofo, iluminista Diderot, inspirou grande parte dos líderes do anarquismo. Os anarquistas propunham uma sociedade igualitária, em que a propriedade fosse coletiva, não houvesse patrões nem operários e todos trabalhassem e se divertissem com liberdade. Para eles, a sociedade capitalista deveria ser transformada por uma revolução que eliminasse as diferenças sociais e a propriedade privada.
            Pierre Joseph Proudhon (1809-1865), francês e inspirador do movimento anarquista, defendia a criação de uma nova sociedade, que ampliasse a liberdade individual e livrasse o trabalho da exploração do capitalismo industrial. Nessa nova ordem social, constituída pela organização dos operários, as pessoas tratariam com justiça seu próximo e desenvolveriam seu potencial. Uma sociedade assim não requeria um governo que somente alimentasse privilégios e suprimisse a liberdade. Reverenciado pelos anarquistas de todo o mundo, tornou célebre a formulação que viria a ser um dos grandes lemas do movimento operário: “A propriedade é um roubo”.
           Outro grande representante do anarquismo foi o russo Mikhail Bakunin (1814-1876). Enquanto Marx sustentava que a revolução seria feita pelos operários nos países industriais, Bakunin desejava que os oprimidos de todas as classes, incluindo os camponeses, se revoltassem.

          Bakunin temia que os marxistas, após terem derrotado o capitalismo e tomado o poder, se tornassem os novos exploradores. Uma vez no poder, eles se converteriam em uma minoria privilegiada de ex-trabalhadores, que, com o poder nas mãos, passariam a representar a si mesmos e a defender seus interesses. Para Bakunin, o Estado deveria ser destruído pelos trabalhadores imediatamente após a revolução.

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