Era uma vez uma imagem
Presentes na Televisão, no cinema,
na internet, as imagens fazem com que parte significativa de nossa educação
passe pelo olhar e influenciam nossas maneiras de comunicar. A vida está
mergulhada em processos de informação pública e construção de memória – como
nas cronologias das redes sociais – e as imagens são o canal de interação por
excelência. Saber ler e associar as imagens ao nosso redor, como parte
integrante da complexidade do mundo contemporâneo, significa compartilhar suas
versões sem abrir mão da capacidade individual de atribuir a elas novas
significações particulares. Uma imagem contém
não apenas um significado, o verdadeiro ou oficial, mas múltiplos, de
acordo com o sentido que faz para o sujeito que vê, ou seja, de acordo com sua
subjetividade.
Qualquer análise iconográfica pode
começar pela contextualização da imagem: discutir o momento em que foi
produzida e a quem foi destinada e, em seguida, partir pra a interpretação de
seus sentidos. No caso do ítalo-brasileiro Angelo Agostini, é importante saber
que foi um pioneiro na produção de charges no Brasil na segunda metade do
século XIX, e que editou não apenas a Revista
Ilustrada, mas diversos periódicos, entre eles O Mosquito, O Malho e Vida Fluminense. O reconhecimento de sua obra
é tão sólido que seu nome batiza um prêmio concedido anualmente pela Associação
de Quadrinista e Caricaturistas de São Paulo, e inspirou a criação do Dia do
Quadrinho Nacional, comemorando em 30 de janeiro, data em que Agostini publicou
a primeira história em quadrinhos no Brasil: Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à Corte.
A palavra charge é de origem
francesa e significa carga, referência ao exagero para tornar cômicos os traços
fisionômicos de alguém. O cartunista francês Honoré Daumier (1808-1879) é
considerado o precursor do gênero, notabilizando-se por suas produções de
crítica política, voltada, em especial, ao governo do rei Luís Filipe I. O
chargista tece uma critica a um personagem, fato ou acontecimento específico e
somente quem possui conhecimento sobre esta ocorrência poderá entender
adequadamente a mensagem. Como leitura ou interpretação da realidade, a charge
possui caráter humorístico e crítico, que propõe a compreensão do que está dito
e também do não dito.
[...]
A escola, como o espaço próprio de
interação entre os jovens, é um lugar adequado para lidar com essas
complexidades inerentes à imagem. Ao refletirem sobre os múltiplos sentidos das
imagens, os jovens ganham desde cedo e de forma crescente a condição de
autores, sujeitos capazes de formular novas interpretações. Afinal, ao lermos
uma imagem, nós a ressignificamos, dando vida a muitas outras imagens que
podem, inclusive, fazer sentido para outras pessoas que não tinham notado este
ou aquele detalhe até então. Isto multiplica as possibilidades criativas e
interpretativas, reforçando a importância dos parâmetros analíticos básicos
orientados pelo professor, como a história, a cultura, a ideologia e os
interesses envolvidos na produção e na difusão de uma imagem.
ARAÚJO, Marcelo da Silva. “Era uma vez uma imagem”.
IN: Revista de História da Biblioteca
Nacional. Ano 8, nº 92, maio de 2013; p. 78- 82.
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