segunda-feira, 16 de novembro de 2015

ERA UMA VEZ UMA IMAGEM



Era uma vez uma imagem                    
Presentes na Televisão, no cinema, na internet, as imagens fazem com que parte significativa de nossa educação passe pelo olhar e influenciam nossas maneiras de comunicar. A vida está mergulhada em processos de informação pública e construção de memória – como nas cronologias das redes sociais – e as imagens são o canal de interação por excelência. Saber ler e associar as imagens ao nosso redor, como parte integrante da complexidade do mundo contemporâneo, significa compartilhar suas versões sem abrir mão da capacidade individual de atribuir a elas novas significações particulares. Uma imagem contém  não apenas um significado, o verdadeiro ou oficial, mas múltiplos, de acordo com o sentido que faz para o sujeito que vê, ou seja, de acordo com sua subjetividade.
Qualquer análise iconográfica pode começar pela contextualização da imagem: discutir o momento em que foi produzida e a quem foi destinada e, em seguida, partir pra a interpretação de seus sentidos. No caso do ítalo-brasileiro Angelo Agostini, é importante saber que foi um pioneiro na produção de charges no Brasil na segunda metade do século XIX, e que editou não apenas a Revista Ilustrada, mas diversos periódicos, entre eles O Mosquito, O Malho e Vida Fluminense. O reconhecimento de sua obra é tão sólido que seu nome batiza um prêmio concedido anualmente pela Associação de Quadrinista e Caricaturistas de São Paulo, e inspirou a criação do Dia do Quadrinho Nacional, comemorando em 30 de janeiro, data em que Agostini publicou a primeira história em quadrinhos no Brasil: Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à Corte.
A palavra charge é de origem francesa e significa carga, referência ao exagero para tornar cômicos os traços fisionômicos de alguém. O cartunista francês Honoré Daumier (1808-1879) é considerado o precursor do gênero, notabilizando-se por suas produções de crítica política, voltada, em especial, ao governo do rei Luís Filipe I. O chargista tece uma critica a um personagem, fato ou acontecimento específico e somente quem possui conhecimento sobre esta ocorrência poderá entender adequadamente a mensagem. Como leitura ou interpretação da realidade, a charge possui caráter humorístico e crítico, que propõe a compreensão do que está dito e também do não dito.
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A escola, como o espaço próprio de interação entre os jovens, é um lugar adequado para lidar com essas complexidades inerentes à imagem. Ao refletirem sobre os múltiplos sentidos das imagens, os jovens ganham desde cedo e de forma crescente a condição de autores, sujeitos capazes de formular novas interpretações. Afinal, ao lermos uma imagem, nós a ressignificamos, dando vida a muitas outras imagens que podem, inclusive, fazer sentido para outras pessoas que não tinham notado este ou aquele detalhe até então. Isto multiplica as possibilidades criativas e interpretativas, reforçando a importância dos parâmetros analíticos básicos orientados pelo professor, como a história, a cultura, a ideologia e os interesses envolvidos na produção e na difusão de uma imagem.
ARAÚJO, Marcelo da Silva. “Era uma vez uma imagem”. IN: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 8, nº 92, maio de 2013; p. 78- 82.

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