O
namoro nos Anos Dourados
O
namoro nos Anos Dourados, especialmente até fins dos anos 1950, é cercado de
regras e costumes que devem ser observados tanto pelo casal de namorados quanto
pelos pais, parentes e terceiros envolvidos. [...]
Assim,
é dito que, no tempo do namoro, a jovem deve tentar provar que é “boa moça” –
pura, recatada, fiel, cordata –, prendada – como deve ser uma dona de casa – e
capaz de vir a ser uma mãe dedicada e carinhosa. O pretendente, por sua vez,
precisa demonstrar para a namorada e sua família que é honesto, responsável,
trabalhador e “respeitador” com relação à sua eleita, enfim, um “bom partido”.
A mãe da jovem precisa vigiar de perto o comportamento da filha, zelar por sua
reputação (o que inclui controlar suas saídas e horários) e manter o pai
informado do assunto. Além disso, deve ajudar a filha na escolha do noivo e
dar-lhe conselhos práticos sobre a vida de casada. Ao pai cabe avaliar a
condição econômica e as intenções do pretendente e cuidar para que sua filha
seja sempre vista como uma “moça de família”, protegendo sua honra diante dos
outros.
O
namoro, porém, não interfere apenas na dinâmica do grupo doméstico, mas também
influencia todo o conjunto mais amplo de relações e representações de gênero,
como veremos mais adiante. Por enquanto, basta lembrar que, no jogo do namoro,
não são as imagens referentes aos jovens (namorados e candidatos a) as que
contam nessa época. Também têm peso as que se reportam a outras pessoas: o pai
(“vigilante e defensor da honra”), a mãe (“cuidadosa e responsável”), os
vizinhos fofoqueiros, os amigos (cúmplices ou críticos) e todo um leque de
guardiães “da moral e dos bons costumes”.
Historicamente,
ao longo do tempo, e com mais intensidade em meados do século XX, o namoro adquire maior importância social na medida em que, em
geral, os pais passam a interferir menos na escolha dos cônjuges e a
subjetividade dos diretamente envolvidos no relacionamento ganha mais força. No
momento em que isso ocorre, a sociedade passa a se preocupar não só com o
caráter secreto, fora de alcance ou potencialmente perigoso do namoro (cujas
intimidades exacerbadas podem comprometer a honra da moça e de sua família)
[...] mas também com [...] seus encontros em casa ou em locais públicos, seus
passeios a dois, suas demonstrações de afeto.
O
namoro socialmente aceito e desejável nas “casas respeitáveis” é aquele que
pode ser visto como “o primeiro passo” em direção ao casamento e à formação de
uma nova família. Com tal importância social, não há como o namoro escapar das
indefectíveis balizas ditadas pelos padrões de comportamento que procuram
garantir as instituições do matrimônio e do modelo dominante de família e, em
última instância, a ordem social.
PINSKY,
Carla Bassanezi. Mulheres dos Anos
Dourados. São Paulo: Contexto, 2014; p. 67-68
Apos lê o texto acima, tente fazer uma comparação com o modo de namoro dos tempos atuais.
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